A próxima vez que se pentear num local público ou que
retirar um cabelo da camisola ou do casaco em qualquer estação do metro, pense sobre a informação
pessoal que está a deixar para trás.
Mesmo quem acompanhe as séries televisivas nas
quais os cabelos são fonte possível de extrair um perfil de adn, que, tratado
por peritos, permite a identificação de uma pessoa.
E mesmo que deixar o seu rasto por toda a cidade
não seja tão mau como circular com o nº de segurança social tatuado na testa,
imagine o que pde ser feito com essa informação.
No caso da artista Heather Dewey-Hagborg e do seu
projeto Stranger Visions, ela
anda a recolher cabelos, beatas de cigarros, pastilhas elásticas e unhas de locais
públicos como paragens de autocarros, restaurantes, casas de banho e em qualquer
lugar em que as pessoas possam inadvertidamente deixar material genético do
qual posteriormente extrai o perfil de adn.
Na posse dos perfis de adn ela constrói retratos
especulativos da aparência desses anónimos dadsres.
A ideia surgiu da visão de um futuro monitorizado
pela genética.
Sem formação em biologia ou em genética,
apresentou a ideia a programas de financiamento e conseguiu.
Utilizando algoritmos de reconhecimento facial
com os quais já tinha anteriormente trabalhado, começu a colaborar com biólogos
da Genspace e a desenvolver um sftware de 3D, para reconstruir as
feições dos seus estranhos misteriosos.
Pela identificação de partes do código genético
que estão associadas com traços físicos específicos e depois utilizando um software
3D de modelação facial, conseguiu construir retratos de pessoas baseado no seu
adn.
Até agora, ela analisou o adn de várias pessoas
que colocaram o seu genoma on-line e em cinco amostras recolhidas em locais
públicos.
Está a trabalhar em amostras adicionais e
continua a aperfeiçoar o software.
Mais quais são as consequências de um Projeto como
este que parece retirado da ficção científica?
ENTREVISTA
Este tipo
de análise genética era totalmente nova para si quando iniciou o projeto.
Há 10 anos que tenho trabalhado na intersecção
entre arte e inteligência artificial.
Eu digo que sou uma artista da informação, porque
o que conecta as coisas diferentes é interessante na ideia abstrata de
informação e processamento de informação.
Como é que o humano processa a
informação, como é que as máquinas processam a informação e o que as distingue
dos humanos.
Qual o objetivo
do seu trabalho? Está a tentar construir retratos o mais precisos possível? Por
vezes não tem forma de verificar os resultados, especialmente com as amostras
que recolhe em locais públicos.
O objetivo é pôr as pessoas a pensar no assunto.
È
fascinante que a partir do adn possamos saber tanto sobre nós.
Igualmente importante é sabermos que estamos a
trabalhar com possibilidades.
Não são exatas, são probabilidades e a crescente utilização
pelos órgãos de polícia está no seu início
È igualmente importante notar que se está a
tornar cada vez mais simples para qualquer pessoa chegar e recolher aquela
informação que nã está regulada nem regulamentada.
Penso que é importante pensar nisto, discutir o
assunto como sociedade.
Quais são
as implicações de não estar regulamentado?
Por exemplo nas polícias, a implicação é uma
amostra encontrada num local de crime: a análise pela genética forense da
amostra, permite determinar a afinidade populacional desta pessoa e essa
informação, ao passar para o público pode causar danos e dificuldades a pessoas
concretas porque pode ser fiável ou não.
Seja fiável ou não tendemos a encarar a ciência
com uma aura de autoridade.
Como é que isto se pode comparar a uma testemunha
que afirma ter visto alguém no local do crime?
Tendemos a dar à ciência maior poder, quando,
como neste caso é provavelmente muito menos fiável do que uma testemunha.
Penso que o que é fascinante é que a pessoa que desenhou
o sistema, são como eu.
Está cheio de todos os meus conceitos e preconceitos,
de todas as pequenas escolhas que eu faço quando faço a minha descrição ou a
descrição de uma outra pessoa.
Por exemplo enciste um parâmetro do género
embutido no software, por isso com base numa escala pode ser determinado como é
a face de homem ou de mulher. Assim quando eu atribuo a categoria homem, estou
a tomar uma decisão sobre essa característica (muito, pouco, neutro).
Estas são decisões que nos esquecemos que os
cientistas e os engenheiros tomam tdos os dias.
Vigilância
genética. O que significa?
Existe uma paranoia na comunicação social, que eu
penso que em ultima análise aponta para uma questão da identidade, de quem
somos e o que nos define como pessoas.
O adn parece ser, cientificamente, o que temos de
mais próximo da origem da nossa identidade.
Pensar que isso não é tão precioso como gostamos
de pensar, que o descartamos a cada momento do dia e pensar que pde ser clonado
ou que pode ser utilizado contra nós….
Penso que é um medo natural e nã sei se isto é
completamente desconhecido.
Penso que é algo com que teremos que lidar
durante a próxima década porque quando o sequenciador genético de 1000 d´lares
surgir no próximo ano, eu terei uma drive USB e
poderei recolher um ou mais cabelos, extrair o adn, coloca-lo na drive
USB e em minutos ter o genoma completo de uma pessoa no meu computador.
A grande questão é que isto está a expandir muito
rapidamente e nós ainda o vemos como sendo ficção científica.