ELE TAMBÉM JÁ MORREU
Neste momento, são poucas as pessoas a acreditar que José Guedes é o estripador de Lisboa. Muito provavelmente, foi apenas uma brincadeira de mau gosto.
Entre Julho de 1992 e Março de 1993, três prostitutas foram assassinadas em Póvoa de Santo Adrião, nos arredores de Lisboa. O criminoso esquartejou-as, deixando os cadáveres retalhados.
Muitos acreditam que o verdadeiro homicida terá morrido em 1 de Novembro de 2000, com 57 anos.
Tratar-se-ia de Luís da Silva Campos, professor do Instituto Superior de Agronomia. À época, a investigação da Polícia Judiciária recaiu também sobre ele. Mas tal como sucedeu relativamente aos outros suspeitos, não foram reunidas provas suficientes.
Academicamente dedicado à bioquímica e aos vinhos, Luís Campos levava uma vida que ia muito para além da actividade docente.
Como pianista, encantava. Chegou a ganhar a vida, tocando em bares londrinos, na sua juventude. Ocasionalmente, expunha quadros por ele pintados a óleo sobre tela.
Era conhecido como escritor de livros policiais. Inicialmente, utilizava o pseudónimo Frank Gold. Depois, passou a assinar com o seu próprio nome.
Nesse domínio, foi muito incentivado por Roussado Pinto, jornalista que redigia novelas de mistério. Fazia-o sob o nome de Ross Pynn, baseado na sua verdadeira identidade. Assim como Dinis Machado assinava Dennis McShade.
(Luís Campos, “Mulher”, óleo sobre tela)
OS BARES NOCTURNOS
15 anos mais velho do que Luís Campos, José Augusto Roussado Pinto incentivou o amigo a editar as suas obras na Europress, onde ambos entregavam os seus originais nas instalações de… Póvoa de Santo Adrião.
Em 1984, o professor, então com 41 anos, deu à estampa o livro “O Estripador de Lisboa”. É ficção concernente a uma série de assassinatos de meretrizes da capital, cometidos por um indivíduo que segmentava os corpos. Ao longo da narrativa, a identidade do criminoso nunca chega a ser revelada.
Tratava-se de um assunto que interessava Luís Campos. Ele era habitual frequentador de bares nocturnos de prostituição, como veio a afirmar Francisco José Viegas, que o entrevistou por duas vezes. O actual secretário de estado da cultura cruzava-se com o professor, na noite lisboeta.
Oito anos após a publicação daquele livro, ocorreram os crimes de Póvoa de Santo Adrião. Eram evidentes as muitas coincidências entre a intriga do romance e a realidade então investigada.
Duas hipóteses surgiam como viáveis. O assassino havia lido a obra de Luís Campos e imitava o protagonista. Ou o autor do livro colocara em prática aquilo que antes surgira na sua imaginação.