Pelas cinco horas da madrugada do dia 16 de Novembro de 1970, numa barraca da Rua Fonte de Maio, Caminho do Mocho, em Paço d’Arcos, teve início uma discussão entre José Domingues Borrego e José Pedro dos Reis, conhecido como Sanduga.
Aparentemente, a discussão foi motivada pelo empréstimo de 5.000 escudos que Sanduga não quis devolver.
Os ânimos exaltaram-se e Sanduga deu um murro na cara de José Domingues que ficou a sangrar do nariz.
José Domingues agarrou o pescoço de Sanduga com ambas a mãos e apertou. Sentiu a perda de forças do opositor.
Pegou numa pedra e bateu com ela por diversas vezes na cabeça de Sanduga.
A morte foi rápida e ocorreu cerca das 5h30.
Cansado da luta, José Domingues deitou-se, a descansar e a pensar como se havia de livrar do corpo e assim evitar ir para a prisão.
Por causa do “retrato dos jornais” preocupou-se em picar os olhos e a desfigurar a cara do cadáver para que não fosse reconhecido.
Cortou-lhe as orelhas e raspou-lhe as pontas dos dedos para apagar as impressões digitais e evitar que o cadáver fosse identificado.
Pensou que, para se desfazer do cadáver, o melhor seria dividi-lo ao meio, fazer duas metades.
Agarrou num serrote novo e numa faca e serrou-lhe o pescoço, separando a cabeça do tronco.
A seguir serrou-lhe os braços e as pernas.
Meteu a cabeça, braços e pernas do cadáver num saco branco de plástico e meteu o tronco do cadáver noutro saco de plástico.
Saiu da barraca cerca das 7h00.
Com o saco de plástico com a cabeça, os braços e as pernas do cadáver, metido numa mala de madeira, dirigiu-se à estação de comboios de Paço d’Arcos.
Meteu-se no comboio e desceu em Alcântara.
Apanhou um táxi para Campolide, tendo pago onze escudos.
Em Campolide meteu-se num comboio e desceu em Moscavide.
Quando chegou a Moscavide seriam dez da manhã e, como estava cheio de sede, entrou numa taberna que também vende hortaliças, situada mesmo em frente à estação e bebeu uma laranjada.
Tinha a mala poisada junto de si quando uma senhora, cliente do estabelecimento, alertou o taberneiro para o facto de a mala estar a pingar, acrescentando ainda que parecia sangue.
Enquanto o taberneiro deitava serradura no local que estava molhado e se mostrava curioso sobre as atividades profissionais de José Domingues Borrego, este, deu uma desculpa e foi-se embora.
A sua intenção inicial era largar o saco com a cabeça, os braços e as pernas da sua vítima na lixeira municipal, mas vendo um guarda nas imediações, teve receio de ser visto e posteriormente reconhecido e continuou o caminho em direção à via férrea.
Viu um caminho que passa junto ao rio, ficando o rio de um lado e a lixeira do outro lado.
Encontrou um local isolado, retirou o saco da mala e atirou-o para o lixo. Aproveitou para limpar o sangue da mala porque não queria levantar mais suspeitas.
Não retrocedeu o caminho. Continuou a andar, com a mala na mão até Sacavém.
Em Sacavém, apanhou uma camioneta até à Rotunda de Encarnação onde apanhou um autocarro até ao Cais do Sodré e depois o comboio até Paço d’Arcos.
Quando chegou a casa estava exausto. Deitou-se.
Não sabia o que fazer ao resto do corpo (o tronco) que ainda tinha na barraca. Levá-lo ao mesmo local era perigoso.
Adormeceu e acordou tarde no dia seguinte.
Lembrou-se de um poço que conhecia em Setúbal, na Quinta de São João.
Limpou a mala melhor e lavou-a. Lavou ainda o sangue que havia no chão.
Como apesar dos seus cuidados o saco tinha derramado sangue, desta vez, meteu o saco de plástico dentro de outros sacos de papel de cimento.
Pelas 19h00 de terça-feira, dia 17 de Novembro, partiu rumo a Setúbal.
Na estação de Paço d’Arcos apanhou um comboio para o Cais do Sodré.
Apanhou o barco para Cacilhas e depois uma camioneta para Setúbal.
Da garagem onde a camioneta parou em Setúbal seguiu a pé até ao poço onde deitou os sacos com o tronco do cadáver. O poço fica numa quinta sem portal, sem muro e o poço não tem água.
Agarrou na mala e regressou a Lisboa.
Deixou a mala depositada na estação do Cais do Sodré e chegou à sua barraca pelas 02h00 do dia 18 de Novembro onde foi abordado por elementos da Polícia Judiciária que o conduziram à sede na Rua Gomes Freire em Lisboa.
Uma rapariguinha tinha encontrado o saco de plástico na lixeira da Matinha.
Comunicado o achado à Polícia Judiciária, esta procedeu ao exame científico dos membros esquartejado — e pelas impressões digitais apuradas conseguiu-se identificar o morto: José Pedro dos Reis, marítimo.
Este individuo era conhecido como amigo de José Domingues Borrego, sobre quem pesava a suspeita de ter sido o autor do crime de morte praticado na pessoa do cigano Leonel Abrantes da Cunha, cujo cadáver, também mutilado, fora encontrado no mês anterior (Outubro) nas cercanias de Setúbal.
«Quem matou um, matou o outro» — foi o juízo sumário dos investigadores.
Na Polícia Judiciária, foi interrogado, e confessou ser o autor dos dois crimes de homicidio.
Pelos dois crimes de homicídio, foi condenado a 30 anos de prisão.
Pelas 22h00 do dia 14 de Novembro de 1971, um ano depois dos crimes, José Domingues Borrego morreu enforcado na cela onde se encontrava preso.
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