Cerca das 1h20 da manhã do dia 15 de Maio de 1948, a enfermeira que fazia a ronda pela ala das crianças do Queen Park Hospital, perto de Blackburn, constatou que June Devaney, de três anos de idade não se encontrava na sua cama.
Após uma busca pelos vários serviços ter resultado infrutífera, a Polícia foi contactada.
Às 3h17 o corpo de June foi encontrado junto ao muro do hospital.
As lesões que apresentava foram descritas pelo patologista:
“Apresentava múltiplas fracturas do crânio….o sangue escorria do nariz….eram visíveis várias feridas pontiagudas no pé esquerdo. Muito provavelmente foram provocadas por unhas…as feridas na cabeça é consistente com o bater violento da cabeça contra a parede. Admito que a criança tenha sido agarrada pelos tornozelos e a cabeça tenha sido arremessada contra a parede.”
Acresce que, a criança tinha sido violada e havia marcas de mordedura na sua nádega esquerda.
Pegadas encontradas no chão envernizado do hospital sugeriram que o atacante usava meias e tinha circulado por entre as várias camas da ala das crianças.
Aparentemente tinha deslocado alguns objectos. Uma garrafa de água oxigenada – normalmente guardada num carrinho de medicamentos numa das extremidades da divisão – estava por baixo da cama de June.
A enfermeira assegurou que, na ronda anterior, ainda estava tudo arrumado.
Pelo tamanho das pegadas deixadas, o desconhecido seria certamente um homem.
Quanto à garrafa de água oxigenada, a quantidade de vestígios revelados, pressupunha que este objecto teria sido manuseado por muitas pessoas diferentes.
Nessa noite, foram recolhidas as impressões digitais de todo o pessoal do hospital e foram conduzidas as comparações lofoscópicas com os vestígios lofoscópicos revelados e recolhidos na garrafa.
Um dos vestígios lofoscópicos não foi identificado pelo que a Polícia tinha poucas dúvidas de que o mesmo fora produzido pelo autor do crime.
Quando as pesquisas e comparações efectuadas nos ficheiros policiais tiveram resultado negativo, isto é, o vestígio não foi identificado com as impressões digitais constantes na base de dados de impressões digitais da polícia, os investigadores decidiram que a linha de investigação a seguir seria proceder à exclusão de possíveis suspeitos.
Elaboraram uma listagem de todas as pessoas com acesso ao hospital – 2.017 pessoas das quais 642 tinham acesso à ala das crianças.
Foram recolhidas as impressões digitais a todas e comparadas com o vestígio recolhido na garrafa. Não foi identificado.
Sem suspeitos, a polícia decidiu dar um passo sem precedentes. Considerando que, durante a noite o hospital era um local de difícil circulação, presumiu que o autor do crime seria alguém, um homem, que conhecia o local.
Assim, propôs que todos os indivíduos do sexo masculino com mais de 16 anos residentes na cidade de Blackburn fossem submetidos à recolha de impressões digitais.
Embora revolucionária, era uma decisão temerária e uma tarefa de enorme envergadura, considerando que os registos disponíveis mostravam haver mais de 35.000 casas e todas elas tinham que ser visitadas.
A operação começou no dia 23 de Maio, com agentes policiais a ir de casa em casa, para recolher as impressões digitais de todos os homens que estavam em Blackburn na noite do crime.
Em meados de Julho, a polícia tinha efectuado 40.000 fichas decadactilares e não estavam mais perto de solucionar o crime.
Quando os registos terminaram, sem terem identificado o autor do crime, a polícia começou a questionar-se como é que o indivíduo teria escapado.
Então houve um momento de inspiração.
Devido às carências alimentares sentidas desde a segunda grande guerra, todos os adultos tinham o seu próprio livro de senhas de racionamento. Eventualmente ali poderia haver nomes que não constassem dos registos.
Durante três semanas, foi feito o cruzamento entre os dados dos registos com os dados das senhas de racionamento e surgiram 200 homens cujas impressões digitais ainda não tinham sido recolhidas.
Um deles era Peter Griffiths, de 22 anos, que vivia em Blackburn.
No dia 11 de Agosto, foi contactado e as suas impressões digitais foram recolhidas. Griffiths, cuja sobrinha tinha estado internada no hospital na mesma altura que June Devaney, não se mostrou incomodado.
Nesse mesmo dia a ficha decadactilar foi registada nos serviços de lofoscopia. Tinha o número 46.253.
No dia seguinte, um dos peritos que procedia às comparações lofoscópicas, gritou: “Apanhei-o. Está aqui.”
Inicialmente negou o crime, mas veio a confessar o crime “Espero ter o que mereço”
Na noite do crime, estando embriagado, foi ao hospital, um lugar que conhecia bem desde a sua infância.
Deixou os sapatos no exterior e entrou na ala das crianças.
Quando esbarrou contra uma das camas, a criança acordou e para ela não fazer barulho ele levou-a para o exterior.
Mas ela não parava de chorar. “Perdi a calma… e vocês sabem o que aconteceu depois”
Na sua roupa foram encontradas fibras da camisa de dormir de June e o seu pé encaixava perfeitamente nas pegadas encontradas no chão do hospital.
Foi condenado pelo homicídio e, em 19 Novembro de 1948, foi executado.
Este foi o primeiro caso em que, para fins de investigação criminal, se procedeu à recolha massiva de impressões digitais à população.
No início da operação, a polícia tinha anunciado que a recolha das impressões digitais e a constituição de fichas decadactilares tinham como único objectivo a exclusão de suspeitos daquele caso concreto.
A polícia cumpriu a palavra dada. No final do processo, todas as fichas decadactilares recolhidas durante o inquérito foram destruídas.