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terça-feira, 28 de agosto de 2012

Erro Científico


Ruth e José, de seis e dois anos de idade, nunca saíram da quinta cordovesa Las Quemadillas – nome que ficará para a história ignóbil do crime e  dos erros policiais – para onde foram levados pelo pai José Breton, entre a tarde do dia 7 e a manhã do dia 8 de Outubro de 2011.

Dois relatórios de prestigiados antropólogos concluíram que, os mais de 200 restos ósseos e seis dentes encontrados numa fogueira acesa pelo pai das crianças na propriedade, não eram restos de pequenos roedores – como há mais de dez meses foi concluído pela polícia científica – mas são restos de humanos menores de idade.

E, se tudo se confirmar e, como esses relatórios e a investigação assinala, foi o pai das crianças quem os matou e atirou para uma pira sobre a qual construiu um forno crematório rudimentar, mantendo depois durante 11 meses uma farsa sobre o que ocorreu naquele dia 8 de Outubro dizendo que os tinha perdido quando brincavam no parque Cruz Conde de Córdoba.

Supostamente, porque o pai, há meses na prisão, continua a negar tudo.

Estes novos relatórios deram uma volta completa a 11 meses de investigação levando-a para o seu início.

A fogueira já apagada em estavam os ossos foi o primeiro local que a polícia pesquisou, convencida desde o início que José Breton mentia e que algo de mau teria acontecido às crianças, considerando-as vítimas de uma vingança pelo pai, recentemente separado e ressentido com isso.

Breton assegurou à polícia e ao juiz que naquela fogueira tinha queimado roupas, objetos e documentos descartados depois da rutura conjugal.

Assim as atenções policiais foram desviadas para outras zonas da propriedade situada nos arredores de Córdoba e que desde Outubro foi rastreada mais de 15 vezes.

A busca desviou-se para a localização de alguma escavação porque a responsável de Antropologia Forense da Comisaría General de Policía Científica, com mais de 20 anos de experiência em catástrofes, afirmou que os ossos encontrados na fogueira não eram humanos e pertenciam a roedores ou pequenos carnívoros.

É possível um erro destes no CSI espanhol, a jóia da coroa policial?

De acordo com o ministro do Interior “um erro científico, como ontem o chamou, até o melhor equipamento tem”.

Afirmou ainda que não pensa pedir responsabilidades por este erro. Muitos elementos da polícia afirmaram sentirem-se envergonhados pelo sofrimento acrescido causado à família materna das crianças.

O erro levou a polícia a revirar a propriedade durante 11 meses: a última em finais de julho. Mas até 17 de Agosto não se havia avançado nada.

Nesse dia, Francisco Etxeberria, subdirector do Instituto Vasco de Criminología, entregava o Relatório sobre os restos ósseos que havia elaborado a pedido de  Ruth Ortiz,  mãe das crianças desaparecidas.

O relatório, efetuado com autorização judicial, afirmava que “os ossos e os dentes são humanos e pertencem a duas crianças de dois e seis anos de idade”.

Não indicava nome e apelido (não tinha sido possível extrair ADN), mas dizia que as crianças a quem aqueles restos pertenciam tinham sofrido “uma morte violenta do tipo homicídio do ponto de vista médico-legal”.

Acrescentava que os ossos tinham sido submetidos a temperaturas de 800º, próprias de um forno crematório.

A policia acredita que José Breton, um ex-militar, construiu um pequeno forno com uma chapa metálica e tijolos, para obter temperaturas tão elevadas e capazes de deixar os corpos quase em cinzas.

De facto durante, o rastreamento do terreno com georadar foi detectado um pouco usual endurecimento da argila debaixo do local onde estava a fogueira, compatível com o que se obtém com o barro num forno.

O Relatório dava uma volta tal à investigação que foi pedido um terceiro Relatório, cuja execução foi entregue a outro cientifico de prestigio: José María Bermúdez de Castro, diretor do Centro Nacional de Investigación sobre la Evolución Humana, paleoantropólogo e especialista em dentes.

A sua conclusão foi que alguns dos dentes correspondiam a um menor com uma idade de 6,22 anos, com um erro de mais ou menos 43 dias.

E agora?

A contradição entre os relatórios (o primeiro, policial e os segundos) levou o juiz do caso a solicitar novos exames forenses para determinar se, como parece e a policia acredita, os restos mortais são de Ruth e de José.

A polícia, reafirmou a sua teoria inicial de que José Breton, como o próprio afirma, levou as crianças para a propriedade no dia 8 de Outubro, onde previamente tinha guardado 180 litros de gasolina que havia comprado dias antes.

Acreditam que, com a administração de tranquilizantes (Orfidal e Motiván) também comprados dias antes, adormeceu as crianças.

Acreditam ainda que, os matou, incinerou e começou a construir o alibi de que os havia perdido num parque de Córdoba.

Isto é o que a polícia acredita. De acordo com o advogado o suposto infanticida “no seu íntimo, está convencido que esses não são os seus filhos e que não existem restos humanos”.