Clarence Hiller vivia com a mulher e quatro filhos numa casa de dois andares em Chicago. Na madrugada de 19 de Setembro de 1910, a esposa acordou e reparou que o candeeiro a gás que ficava junto ao quarto dos filhos estava apagado. Acordou o marido que foi verificar o que se passava.
Ao sair do quarto, Clarence deparou-se com um estranho. Na sequência da luta, ambos os homens caíram pelas escadas. Ouviram-se dois tiros e momentos depois, ouviu-se o bater da porta de entrada da residência. Ao fundo da escada a senhora Hiller encontrou o corpo sem vida do marido.
Alertado pelos tiros e pelos gritos da senhora, um vizinho acorreu. Quase de imediato, apareceu o seu filho e um amigo que era polícia. Tinham ouvido os disparos.
O intruso tinha entrado nos quartos de duas das crianças, de 14 e 13 anos de idade. Estavam aterrorizadas mas não tinham sido atacadas.
Junto à cama da criança mais nova foram encontradas partículas de areia e cascalho. Junto ao cadáver foram encontradas três munições por utilizar.
Apesar de serem estes os únicos indícios, o polícia não podia saber que o autor do homicídio já se encontrava detido por outros motivos.
A cerca de um quilómetro da residência dos Hiller, quatro polícias tinham visto um individuo com ar suspeito, que circulava pelas zonas menos iluminadas e olhava constantemente para trás como se estivesse com receio de estar a ser seguido.
Apesar de não estarem de serviço, abordaram o individuo, mandaram-no tirar os objectos dos bolsos e viram que o individuo trazia consigo um revolver carregado. Disse chamar-se Thomas Jennings. O seu braço esquerdo estava magoado e na roupa tinha manchas de sangue recentes. Alegou que, pouco antes, tinha caído de um eléctrico.
Os polícias desconfiaram da história e conduziram Jennings à esquadra., onde as notícias do homicídio tinham acabado de chegar.
De imediato foi considerado como principal suspeito, especialmente quando foi apurado que havia recentemente saído da prisão após cumprir pena por furto.
Quando foi apurado que duas semanas antes, com uma identidade falsa, tinha comprado um revólver e que as munições eram idênticas às encontradas junto ao corpo de Clarence Hiller, as suspeitas iniciais aumentaram.
No entanto, a descoberta mais relevante ocorreu no local do crime. A entrada na residência tinha ocorrido pela janela da cozinha.
Por mera casualidade, horas antes da sua morte, Clarence tinha pintado algumas grades da casa e impressas na tinta da grade da cozinha eram patentes quatro impressões digitais da mão esquerda de alguém.
Desde que, em 1905, na St Louis International Police Exhibition, o Sargento John Ferrier da Scotland Yard, tinha exaltado as virtudes do sistema de classificação de impressões digitais de Sir Edward Henry, algumas das polícias americanas tinham adoptado a lofoscopia.
Em Chicago as impressões digitais tinham sido recebidas de forma entusiástica.
Técnicos do Police Deparment Bureau of Identification analisaram as grades e fizeram ampliações fotográficas dos vestígios digitais impressos.
Quando comparados com as impressões digitais de Jennings, correspondiam em todos os seus pormenores.
No julgamento, quatro lofoscopistas da polícia afirmaram que a mão de Jennings, e apenas a sua, tinha produzido os vestígios impressos nas grades.
O seu depoimento conduziu ao veredicto de culpado e a uma condenação à morte.
Os advogados de defesa recorreram da sentença considerando que a lofoscopia era ainda uma disciplina muito recente, pouco credível e que havia estados americanos, como o Illinois, que não a reconheciam como prova material em sede de julgamento.
Em Dezembro de 1911, o Tribunal Supremo de Illinois, pronunciou-se favoravelmente quanto à admissibilidade da lofoscopia enquanto prova material e o direito de pessoal técnico especializado testemunhar como peritos em sede de julgamento.
“Quando a fotografia foi introduzida foi seriamente questionado se as imagens criadas poderiam ser apresentadas como prova, mas este meio de prova bem como o raio-X e o microscópio, são agora admissíveis sem qualquer dúvida…
Pelas leituras que fizemos sobre estas matérias, bem como pelos depoimentos apresentados pelos quatro peritos, estamos dispostos a apoiar, que existe uma base científica para a identificação das pessoas pelas impressões digitais e que os Tribunais não podem ignorar esta factualidade.
Se inferências quanto à identidade de pessoas suportadas na voz, aparência ou idade são admissíveis, porque não seriam admissíveis os depoimentos sobre identificação de impressões digitais?”
“Autoridades em matérias científicas têm discutido a utilização das impressões digitais como metodologia de identificação humana, concluindo que a experiência tem demonstrado ser fidedigna.
Estas autoridades afirmam que este sistema de identificação é muito antigo, tendo sido usado no Egipto quando a impressão do dedo polegar da mão direita do rei era utilizada como assinatura;
tem sido utilizada nos tribunais da India e mais recentemente em tribunais de vários países europeus;
que nos anos mais recentes a sua utilização pelos departamentos policiais de várias cidades americanas e da Europa tem sido generalizada;
que o enorme sucesso em Inglaterra, onde é utilizada desde 1891 em milhares de casos sem erros o que originou o envio de uma comissão americana e em cujo relatório favorável se fundou a criação de um gabinete federal dos EUA.”
Desta forma, o tribunal de recurso, confirmou o veredicto do júri e a sentença.
Thomas Jennings foi enforcado.
Na sequência desta decisão, a lofoscopia estendeu-se a todos os cantos da América.
Em 1915, um pequeno grupo de peritos de lofoscopia reuniu-se na California e fundou o que mais tarde seria a International Association for Identification (IAI), o primeiro grupo profissional.
Actualmente a IAI tem milhares de membros em todo o mundo.
Veri: IAI
A International Association for Identification é responsável pelo relevante Journal of Forensic Identification.