Pesquisar neste blogue

sábado, 19 de janeiro de 2013

Revisão de casos



O Gabinete de Perícia Médica de Nova York está a realizar uma revisão incomum de mais de 800 casos de violação em que provas críticas de ADN podem ter sido erradamente tratadas ou negligenciadas por um técnico de laboratório, resultando em relatórios incorretos transmitidos aos investigadores criminais.

Até agora, os verificadores localizaram 26 casos em que o técnico falhou na deteção de provas biológicas quando na realidade elas existiam.

Em sete desses casos, foram obtidos perfis de ADN completos – em alguns casos, provas que os investigadores dos crimes sexuais desconheceram durante anos, prejudicando a sua capacidade para desenvolver acusações contra suspeitos das violações.

Num deles, o perfil de ADN agora descoberto correspondia com a amostra de um agressor, conduzindo a uma acusação uma década depois da recolha da prova, informou o Dr. Mechthild Prinz, diretor da biologia forense daquele Gabinete.

Em dois outros casos, os perfis de ADN agora descobertos foram relacionados com pessoas que já tinham sido condenadas ou que eram suspeitos dos crimes.

A dimensão do problema ainda não está determinada; durante dois anos, em alguns momentos, os verificadores pensaram ter avaliado a totalidade dos erros cometidos mas verificaram que havia mais.

O Gabinete tem estado na linha da frente da tecnologia forense; o trabalho realizado depois dos ataques terroristas de 11 de Setembro e a tentativa de identificar cadáveres de desconhecidos têm sido reconhecidos.

O Gabinete que anualmente trata prova material de cerca de 1500 casos de crimes sexuais, está agora a defender a aceitação do chamado ADN Low Copy Number - às vezes transmitido apenas através de um toque - como forma para vincular suspeitos aos crimes.

Mas a revisão contínua dos casos, expõe como as provas por ADN, amplamente considerado como uma prova quase irrefutável de culpa ou inocência, pode ainda estar sujeita a erro humano.

Quando existe uma acusação de um crime sexual, são recolhidas amostras biológicas de saliva, sémen ou sangue que possam ter sido deixadas pelo agressor .

A análise destas amostras é da competência do Gabinete Médico, que emprega 48 técnicos que realizam testes preliminares.

No processamento das amostras o técnico tinha duas responsabilidades: tinha que recortar as amostras das zaragatoas recolhidas dos corpos das vítimas e coloca-las em tubos de ensaio para análise de ADN realizada por técnicos mais experientes.

Tinha ainda que examinar as roupas das vítimas, geralmente roupa interior, para detetar manchas presumidamente biológicas.

Durante a verificação, apurou-se que, por vezes a técnico tinha desprezado amostras. Outras vezes, tinha identificado as manchas, mas o teste químico utilizado para detetar sémen era inadequado e reportava não ter localizado nada.

Os erros, envolveram conclusões de falsos negativos e não de falsos positivos. “Não conhecemos nenhum caso de alguém ter sido erradamente condenado.

O técnico que trabalhou no Gabinete durante nove anos, não foi identificado. Demitiu-se em Novembro de 2011.

O trabalho que desenvolvia ficou sob escrutínio quando participou num programa de formação para analista de ADN.

Integrado no programa, trabalhou num amplo conjunto de casos, incluindo homicídios, mas os seus supervisores ficaram preocupados porque tinham que corrigir deficiências nos casos que lhe eram distribuídos.

Os erros levaram o Gabinete a avaliar o seu trabalho anterior.

O objetivo é verificar 843 casos ocorridos entre 2001 e 2011, mas ainda não foram revistos 412.

Durante o processo de verificação, foi descoberto outro problema.

Dezasseis objetos de valor probatório, na maioria zaragatoas seladas em envelopes de papel foram encontradas no kit de análise errado, misturando provas de ADN de 19 investigações de violação.

Pensamos que o técnico tinha ambos os kits abertos ao mesmo tempo e quando estava a reunir os casos, evidentemente que colocou itens de um kit no outro kit”.

Ter dois casos abertos ao mesmo tempo não é norma de trabalho.

Sobre a possibilidade de contaminação cruzada entre os casos, o Gabinete afirma ser extremamente improvável. Não é um risco.

Mas, um professor de criminologia da Universidade da Califórnia afirma que “a transferência acidental de ADN de uma amostra para outra amostra não é um evento raro”. Ele estimou que, a nível nacional, a contaminação cruzada de amostras é de uma em cada cem ou superior.

Afirmou ainda que conhece três casos de pessoas erradamente condenadas nos EUA em resultado de contaminação de amostras ou errada interpretação dos resultados.

Um professor de direito da Universidade de Nova Iorque, afirmou que um erro tão básico como esse no protocolo levanta ainda a questão de saber quais foram as outras regras básicas de boa prática forense que foram ignoradas por aquele técnico.

É um analista com tal desprezo para a integridade das provas e para seriedade da sua profissão, que implique igualmente a probabilidade de incumprimento de outras regras, como a mudança de luvas ou a limpeza da estação de trabalho ou outros métodos necessários para salvaguardar as provas? "

Temos uma enorme confiança do público na produção de resultados fiáveis e em conformidade dedicámo-nos a uma revisão completa dos casos que foram tratados pelo técnico