Em Janeiro de 1997, Marion Ross foi encontrada morta na sua residência em Kilmarnock, Escócia. Durante alguns dias, a equipa de investigação incluiu Shirley McKie.
Durante o exame ao local do crime e posteriormente no exame laboratorial aos objectos recolhidos, foram revelados 428 vestígios lofoscópicos, os quais foram analisados pelos serviços de lofoscopia do Scottish Criminal Record Office (SCRO) em Glasgow.
O SCRO identificou um dos vestígios, referenciado como Y7, como tendo sido produzido por Shirley McKie enquanto um outro vestígio foi identificado como tendo sido produzido por David Asbury e ainda um outro vestígio foi identificado como tendo sido produzido pela vítima.
David Asbury foi acusado pelo homicídio e em Junho de 1997, foi condenado. A prova lofoscópica foi utilizada pela acusação.
Durante o julgamento, não obstante os vestígios terem sido discutidos, não foi levantada qualquer dúvida quanto às identificações produzidas pelo SCRO.
Shirley foi uma das muitas testemunhas ouvidas. Foi-lhe perguntado sobre o vestígio que era identificado como produzido por ela.
Ela assegurou que não tinha passado do alpendre pelo que, no interior da residência não poderia haver qualquer vestígio dela.
Após o julgamento, Shirley foi acusada de perjúrio, com fundamento de que tinha mentido sob juramento.
No seu julgamento em 1999, dois peritos norte-americanos, contestaram a identificação efectuada pelos ser4viços escoceses. Shirley foi absolvida.
O caso chamou a atenção da comunicação social.
Após a absolvição, o pai de Shirley, antigo intendente da polícia, iniciou uma troca de correspondência com as autoridades, preocupado com a acusação da filha e contestando a competência técnica e a conduta dos peritos que tinham realizado as identificações.
Nos anos seguintes, manteve as acusações através da comunicação social, junto de membros do Parlamento e de outras instituições e personalidades denunciando o que ele entendia como falhas graves no sistema de justiça.
Em 2000, o caso foi inserido em programas de dois canais de televisão, onde, além da identificação de Shirley era igualmente questionada a identificação do vestígio que tinha sido atribuído à vítima.
Nos meses seguintes vários inquéritos foram realizados pela polícia e por outras entidades públicas. Foram envolvidos peritos holandeses, noruegueses e dinamarqueses e do seu trabalho resultou serias dúvidas com os vestígios daquele caso.
O primeiro destes inquéritos foi conduzido pelo Her Majesty’s Chief Inspector of Constabulary for Scotland (HMCICS) e incidiu sobre o serviço de lofoscopia do SCRO.
Os resultados foram anunciados em Junho de 2000 e o Ministro da Justiça informou o Parlamento escocês que a identificação de Shirley McKie tinha sido errada e que o Serviço não era totalmente eficiente e eficaz.
A Association of Chief Police Officers in Scotland (ACPOS) criou dois grupos de trabalho. Um com o objectivo de proceder a alterações à gestão (Change Management Review Team) e o outro para realizar uma detalhada investigação sobre as circunstâncias que tinham rodeado a identificação lofoscópica.
O Regional Procurator Fiscal for North Strathclyde foi nomeado para apurar as alegações de Shirley Mckie sobre a conduta criminal dos peritos do SCRO.
Quatro peritos foram suspensos preventivamente e outros dois foram transferidos para funções não operacionais.
Em Agosto de 2000, foi promovida uma reunião de peritos na Escola da Polícia Escocesa. O relatório sobre o serviço de lofoscopia foi publicado em Setembro e o Her Majesty’s Inspectorate of Constabulary (HMICS) fez uma auditoria completa ao SCRO.
Os grupos de trabalho criados entregaram os seus relatórios.
O tribunal decidiu libertar David Asbury da cadeia. Esta decisão não foi contestada pelas autoridades competentes.
Todas as identificações lofoscópicas efectuadas pelo SCRO desde Junho de 2000 a Julho de 2001 foram reverificadas e revalidadas.
Os casos em que os quatro peritos suspensos tinham estado envolvidos foram todos reanalisados e reavaliados. Nenhum erro foi encontrado.
Em 2001, o resultado da avaliação do SCRO foi publicado. O Serviço foi considerado eficiente e eficaz. Os serviços de lofoscopia foram reorganizados com uma organização centralizada a operar em quatro locais Aberdeen, Dundee, Edinburgh e Glasgow.
Os peritos não foram criminalmente acusados.
Shirley iniciou uma acção civil contra a polícia (pela forma como a prenderam), contra o SCRO e contra os peritos.
Foi iniciado um inquérito para apurar se havia fundamento para actuação disciplinar com base na conduta ou na capacidade técnica dos seuws peritos.
O relatório concluiu que não havia questões de má conduta ou de incompetência técnica no trabalho efectuado pela Polícia e reintegrou os seis peritos afastados.
Em 2002, a acção de Shirley contra a Polícia foi arquivada pelo Tribunal. O recurso que apresentou foi anulado em 2003. A sua reclamação era agora contra os Ministros escoceses responsáveis pelo SCRO.
Shirley alegava que os peritos tinham, de forma negligente ou deliberada, afirmado e mantido uma identificação errada de um vestígio lofoscópico.
Em 2004, a queixa de Shirley alegava que os peritos tinham actuado de forma maliciosa.
Em Julho de 2005, o Ministro escocês anunciou que admitia ter havido uma identificação errada no cado de Shirley Mckie e que iriam negociar uma indemnização civil.
Em 2006, foi estabelecida uma indemnização de 750.000 libras.
O primeiro-ministro afirmou que tinha sido um “erro honesto”, mas Shirley não acreditava.
O ministro da Justiça deu instrução para que o Scottish Fingerprint Service (SFS) integrasse o novo Scottish Forensic Science Service o qual foi publicado como o Plano de Acção para a Excelência.
O parlamento decidiu que esta acção era necessária para restaurar a confiança no Serviço de lofoscopia mas que um inquérito público não era adequado.
Foram criadas as bases para a criação do Scottish Police Services Authority (SPSA).
Foi estabelecido um inquérito parlamentar cujo objectivo era contribuir para o processo de restaurar a confiança pública nos serviços de lofoscopia. Foram ouvidas muitas pessoas, incluindo os peritos do SCRO e os peritos que discordavam deles.
Em 2007, esta comissão parlamentar publicou o relatório no qual afirmou ter encontrado opiniões divergentes entre os peritos e considerou que os serviços de lofoscopia tinham desafios enormes para serem reconhecidos como um centro de excelência e, assim, recomenda que as áreas de liderança e gestão, os recursos humanos, os procedimentos e qualidade sejam prioritários.
Em 2007, cinco dos Peritos do SCRO abandonaram o serviço por mútuo acordo. Um deles não aceitou a negociação e recorreu da sua demissão.
Continuam a afirmar que as identificações estão correctas.
Em abril de 2007, o SCRO tornou-se parte do SPSA e em Agosto foi decidido realizar um inquérito público a este caso o qual foi formalizado em Agosto de 2008.
CONCLUSÕES DO INQUÉRITO
1. Além do vestígio lofoscópico, não existe qualquer outro indício de que Shirley Mckie tenha estado no interior da residência de Miss Ross.
2. O vestígio lofoscópico recolhido na porta da casa de banho foi erradamente identificado como sendo produzido por Shirley Mckie.
3. Shirley Mckie não produziu aquele vestígio.
4 Não houve conspiração contra Shirley Mckie por parte da polícia e a polícia tomou todas as medidas razoáveis para a verificação e a confirmação da identificação do vestígio lofoscópico.
5. Um outro vestígio lofoscópico foi erradamente identificado como tendo sido produzido pela vítima.
6. Nas identificações erradas, não houve qualquer intenção ou conduta imprópria por parte dos peritos. Foram resultado de opiniões legítimas.
7. Os vestígios erradamente identificados pelos peritos do SCRO, resultaram de erro humano e não foi apurado nada de sinistro no facto de terem ocorrido ambos no mesmo caso.
8. As identificações erradas expõem fragilidades na metodologia de comparação de impressões digitais e, em particular, em casos envolvendo vestígios lofoscópicos complexos.
9. Actualmente, os Peritos estão mal preparados para debater as suas conclusões, porquanto estas são encaradas como certeza absoluta e raramente são contraditadas.
10. Não existe qualquer motivo que sugira que a comparação lofoscópica não é fiável, mas os peritos devem ter em consideração quais os limites da disciplina.
O secretário da Justiça disse que este caso lança uma sombra de incerteza e suspeição sobre o sistema de justiça e que este relatório poderá ter enormes consequências para a ciência forense como um todo.
O inquérito custou, 4.75 milhões de libras, foram ouvidas 64 testemunhas num total de 250 horas de audições que se prolongaram durante 57 dias.
“ A Escócia foi o berço da identificação humana pelas impressões digitais mas hoje descobriu que o SCRO, ao identificar erradamente dois vestígios lofoscópicos, quase a destruiu, pela incompetência institucional e pela cultura arrogante” afirmou o pai de Shirley Mckie.
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